domingo, 7 de novembro de 2010

Legião Urbana: mais atual do que nunca


Cleython G. G. da Silva.

Acabo de ler uma matéria do crítico musical Regis Tadeu sobre a Legião Urbana. A matéria de título “Discos da Legião Urbana ainda pulsam”, mostra como as músicas do grupo continuam exercendo grande influência ainda hoje, quase três décadas após lançado o primeiro álbum da banda. Sobre este assunto, eu, fã incondicional da banda resolvi em forma de palavras dar também meu parecer a respeito.
Interessante perceber que ainda fazemos parte da “Geração coca-cola” que é programada a receber todo o lixo que a mídia nos empurra goela abaixo. A mudança que percebo atualmente é que o lixo comercial e industrial que Renato Russo cantava na referida canção tem piorado e aumentado consideravelmente. Esta questão me faz lembrar de uma frase que certa vez ouvi de um músico (competentíssimo por sinal) antes de uma apresentação em um festival de música que participei: “estamos vivendo uma época de deterioração do gosto.” Infelizmente esta é a realidade em praticamente todos os gêneros musicais e produções televisivas. Tudo soa igual e demasiadamente sem conteúdo.
“Perfeição”(Disco Descobrimento do Brasil) dispensa comentários, sem sombra de dúvidas a mais atual de todas. De forma irônica Renato Russo celebrou tudo que havia de errado em nosso país: os preconceitos, o voto dos analfabetos, o nosso (“lindo”) passado de absurdos gloriosos e os mortos por falta de hospitais. Cantou também de forma sutil o amor e a morte ao celebrar Eros e Thanatos. Uma verdadeira poesia que ainda hoje acalanta meus ouvidos. Importante destacar que ainda hoje muitos dos pontos abordados na música continuam dignos de “celebração”.
“Aloha”(Disco A tempestade), expressa muito bem a juventude de hoje. Uma juventude que “é rica e pobre” dentro de um sistema que quer que todos sejam iguais, pois “assim é bem mais fácil nos controlar (...) e matar o que eu tenho de melhor; minha esperança.” Produtos criados por padrões de comportamento que são absorvidos sem se notar, como se fosse algo extremamente natural. Acríticos, pois grande parte da minha geração tem preguiça de pensar, refletir sobre nossa real condição e qual nosso papel para propor mudanças. Se é que isto realmente interessa. Mas como cantou Renato Russo: “que se faça o sacrifício e cresçam logo as crianças.”
Quantos “João de Santo Cristo” ainda existem por aí a procurar melhores condições de vida e são rejeitados pelo sistema? Quantos trabalhadores ainda são explorados dentro da “Fábrica”? Quantos “Pais e filhos” ainda não entenderam que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã? Quantas “belíssimas cenas de destruição” ainda vamos ver? Será que “Deus está do lado de quem vai vencer”? Será que “ter esperança é hipocrisia”?Há ainda a possibilidade e a necessidade de mudança deste quadro, pois “quando o circo pega fogo (ainda) somos os animais na jaula”.

Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

PROFISSIONAIS E PROFISSÕES


Cleython G. G. da Silva


O que você faz da vida? Essa pergunta é usada constantemente para definir o que somos. O “fazer o que da vida” nada mais é do que em que atuamos como profissionais. A profissão, em proporção igual ou até maior que nosso comportamento define quem somos e qual nossa importância dentro da sociedade. Ao falar em importância dentro da sociedade, há um discurso de que todas as profissões desde a considerada mais humilde até às que exigem um grau de estudos mais avançado e que utilizam pouco ou “nenhum” trabalho braçal exercem o mesmo grau de importância social. Isto é bem claro, afinal para que uma minoria goze dos luxos alguém tem que por a mão na massa. Esse discurso conformista faz com que tudo continue funcionando “harmoniosamente”. Mas, um ponto me intriga bastante nesta questão; se todas as profissões, independente de quais sejam exercem a mesma importância em uma sociedade, porque então umas serem tão mal remuneradas e pouco valorizadas e outras valorizadas e remuneradas em demasia? Será que a igualdade tão pregada só serve para enfeitar discursos?
Todos os dias várias pessoas se aprontam para dar início a mais um dia de trabalho. Pedreiros, garis, carpinteiros, professores, advogados, médicos, dentistas, etc. Após citar todos estes profissionais que desempenham suas respectivas funções para que a harmoniosa engrenagem social não pare de girar, cabe um questionamento: se todos estes tem a mesma importância para a sociedade, porque então são tratados com tanta diferença? Enquanto alguns profissionais se tornam mais visíveis e com brilho excessivo quando entram em seus uniformes brancos e engravatados, outros, no entanto se apagam e tornam-se invisíveis. O homem invisível não necessita de nenhum artefato mágico para tal proeza. Necessita apenas que seus “pares” bem trajados continuem a difundir seus discursos pseudo-igualitários.
Não haverá igualdade de importância entre profissões enquanto uma minoria expropriar a grande massa de trabalhadores. O igualitarismo difundido serve somente a esta minoria, a classe que injeta em nossas veias doses diárias de calmantes ideológicos. Passivos, dóceis e conformados, profissionais com pouca ou nenhuma valorização riem da própria desgraça sem saber que sua condição nada mais é do que o resultado desenfreado da exploração do homem pelo homem, ou se preferir de uma classe sobre a outra.
Conformismo, eis a função do discurso que difunde a importância igualitária entre todas as profissões. Serve apenas para tentar mascarar os antagonismos existentes e fazer com que profissionais mal remunerados e desvalorizados se sintam felizes como peças fundamentais para o equilíbrio social sem tomar consciência da sua real condição. Desta forma nada se altera, e estes se tornam cada vez mais escravos da “igualdade”, com seu custo “reduzido quase que exclusivamente ao indispensável para sobreviver e perpetuar a sua descendência” (Marx e Engels-Manifesto do Partido Comunista).

Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.

FUBASADA


Erique Gustavo Soares da Silva


Quem nunca ouviu, ou reproduziu o termo fubasada, usado para classificar pessoas de baixa renda, inúmeras vezes repetido por uma personagem de uma novelinha Global, designada ao público jovem, “Iasmin Fontes”, uma estudante da escola “surreal” Múltipla Escolha.
Não raras vezes, foi possível observar, a personagem se referir a população pobre nestes termos, com atitudes preconceituosas, a Iasmin era uma mistura de egocentrismo, soberba, aliado a um humor apelativo, que conquistou o seu público alvo com jargões e atitudes desrespeitosas as classes pobres do Brasil.
Levando em consideração tudo que acabei de ressaltar, o que poderia explicar o tamanho sucesso dessa personagem? Uma das possíveis razões estaria na influência que a mídia e predominantemente a emissora de TV Globo, exerce sobre nós. Levando em consideração que a televisão está presente em quase todos os lares brasileiros, sendo um entretenimento de baixo custo, não é difícil supor que fazemos parte de uma geração criada á frente desse tubo mágico, capaz de nos divertir, distrair e até mesmo nos passar juízo de valor e ideologias.
Crescemos assistindo as novelas Globais, que mostram uma visão de mundo que não condiz com a realidade, como uma esponja vamos absorvendo toda “lição de vida” que as tele-novelas têm-nos á oferecer, sem nos questionar-mos acerca dos suaves, e às vezes gritantes contrapontos existentes entre a realidade das novelas e a nossa. Nos tornamos cada vez mais dependentes desse entretenimento, e vamos nos alienando cada vez mais que adentramos, dóceis e passivos no tubo mágico, que tem o poder de criar seres maleáveis e reprodutores.
É a vida imitando a arte! Pois não é difícil esquecer todos os problemas sociais, toda desigualdade, quando questões pequenas, são postas como de suma importância pela mídia. Como quem irá ganhar o BBB? Se a mocinha da novela vai ou não trair o marido? Pois para que preocupar-mos com a desigualdade, com a falta de ética e compromisso de muitos de representantes políticos, se a todo momento, somos levados a acreditar que são problemas sem soluções, que todo político é corrupto, que a política é algo vil? Se é mais fácil nos conformar-mos, nos alienar-mos cada vez mais em nossa ignorância, acreditando, que assim como nas novelas no final sempre dará certo. A grande problemática, é que quanto mais alienados, mais conformados ficamos, mais no tornamos marionetes fáceis de manipular.
Talvez essa seja uma das possíveis razões do sucesso da personagem Iasmin, aliada a facilidade de assimilação, e a falta de criticidade da grande maioria da população diante do que nos é vomitado pela mídia, justifique que pessoas que fazem parte da fubasada, aderirem a esse jargão e reproduzi-lo. Talvez alienados não se veêm atolados no fubá até o pescoço, ou até se vêem, mais assimilam que realmente sua classe é inferior, e merecem o apelido e tratamento dado pela personagem, que tem aversão e fobia a pobre.

Erique Gustavo Soares da Silva é graduando em História e tem interesse pela pesquisa em História do Brasil Contemporâneo

terça-feira, 11 de maio de 2010

Política: teoria e prática


Francis Andrade

Em tempos de eleições é muito comum ouvir considerações sobre a política que se colocam em verdadeiros extremos. Antagonizando teoria e prática cidadãos comuns, teóricos e políticos iniciam verdadeiras batalhas dentro de um locus que se define, pelo menos a grosso modo, na soma total dos votos assinalados pelos inúmeros indivíduos que vão às urnas expressarem suas convicções, tenham elas as motivações que tiverem ou sejam elas quais forem.
Mas em um primeiro momento podemos afirmar que o que mais chama a atenção nessas épocas são os comentários soltos como: “fulano é politiqueiro demais...”, “olha lá, fulano já tá fazendo política...”, “na política se o cara não votar no meu candidato eu nem deixo ele entrar em minha casa...”. Evidentemente que esses comentários, que nem são tão soltos assim, trazem muito mais em comum do que a simples referência à palavra política. Na verdade os mesmos estão azeitados numa forma demasiada prática de pensar o fazer política, ou seja, na disputa castradora do tão importante debate político em si. Não são consideradas propostas, planos de governo, legendas e formação de coalizões, mas sim em quem deve-se ou não fiar o voto. Candidato A que é apoiado pelo influente homem de determinada família, ou o candidato B que é apoiado pelo vereador que representa tal segmento. Definidos os apoios políticos dessas referências populares, inicia-se então um processo de arregimentação de votos com base principalmente na fidelidade política a esses homens. Mas devemos ser cautelosos e problematizar como o apoio desses importantes homens é conseguido.
No dia 28 de janeiro último, foi veiculada matéria no jornal O Estado de São Paulo denunciando indícios de compra de apoio político por parte do Ex-Governador de Goiás em 2006, Marconi Perillo (PSDB). A compra de apoio político de Perillo se referia à sua candidatura para o Senado pelo próprio Estado em que foi Governador. Segundo os trechos das gravações veiculadas no periódico em questão as dívidas contraídas pelo então candidato ao Senado de Goiás passavam de R$ 750.000,00. Daí a pergunta: como será que estão sendo alinhavados os apoios políticos no Estado de Minas Gerais? Evidentemente não possuímos a resposta a tal malfadada pergunta, mesmo porque não participamos como protagonistas dos bastidores políticos, mas simplesmente como coadjuvantes. Nesse sentido nossa função primaz em relação a essa questão seria questionar nossos candidatos sobre seus apoios políticos, sempre na medida do possível pois nem sempre tais candidatos são tão acessíveis a tal ponto.
Contudo, tenho certeza que o leitor mais aguçado desse texto certamente está se questionando: “mas onde está a maldita indicação do título, ‘Política: teoria e prática’? Já que esse cara só está abordando a equivocada prática diária de eleitores e candidatos!” Pois bem, a Teoria Política realmente fica à margem de tais discussões. Num mundo tão dinâmico e pragmático quanto o do fazer política, teóricos (ou até mesmo pessoas com um ponto de vista um pouco mais crítico como é o meu próprio caso) são obrigados como Sócrates na Grécia Antiga a se suicidar ingerindo cicuta. No nosso caso contemporâneo, nos suicidamos politicamente em termos sociais em nossas pequeníssimas “rodas de discussão” capazes de resolver todos os problemas de Minas Gerais, do Brasil, e até mesmo do mundo. Ainda, no nosso caso, o cicuta são nossas próprias discussões e leituras que a cada vez mais nos afastam do mundo cotidiano e prático que não quer partilhar de nossas idiotas preocupações. Importante frisar que não utilizo o termo “idiotas” em sua acepção pejorativa, mas sim original: indivíduos incapazes de coordenar idéias. Porém, tendo como base a produção cinematográfica dinamarquesa do Dogma 95, “Os Idiotas” (1998), fica a questão: quem são os reais idiotas?

Francis Andrade é colaborador do Grupo Afavordacontracorrente

sexta-feira, 30 de abril de 2010

MÚSICA BOA É MÚSICA NOVA


Francis Andrade

Nos dias de hoje ao ligarmos nossos rádios e tv’s podemos frequentemente ouvir e ver as mais finas flores do cenário musical mundial da atualidade. Friso no plural “mais finas flores” não por ignorância, mas por seguir os alertas de Frederic Jameson que nos atenta para o fato de que vivemos na era do Capitalismo Tardio, e por isso acabamos sendo influenciados por um verdadeiro turbilhão de informações e “cânones” que borbulham a todo dia, a toda hora e a todo momento. Nesse cenário difuso, ou centrípeto já que não consigo mais me nortear tão bem quanto dantes, podemos citar as “sempre” belas e entusiásticas performances de nossas mais emblemáticas exemplares “cantoras” como Lady Gaga, Beyonce e Kate Perry, dentre outras e “outros”. A verdade é que vivemos num cenário extremamente adverso em relação à tão criticada década de 1980.
Interessante é o dado de que durante toda a minha infância, e também durante minha puberdade e até mesmo minha idade adulta, sempre ouvi dizer que os anos 80 foram perdidos e bregas, e que além disso esse tempo foi um verdadeiro retrocesso não apenas em termos econômicos como também culturais. Pois bem, hoje olho para trás e vejo tudo de uma forma muito diferente bem como muito pouco abominável, pelo menos em acordo com as reminiscências provenientes de meus ouvidos. Na verdade percebo atualmente que a década de 1980 não foi nada mais nada menos que um momento de acomodação de ideais, aspirações e utopias. Infelizmente esses dez anos significaram para a nossa geração o triunfo do neoliberalismo e a derrota, mesmo que temporária, dos ideais sociais. Em melhores palavras esse foi um tempo em que a economia acabou por influenciar tanto as artes que acabamos por vivenciar um pleno declínio estético de suas manifestações, mais precisamente em termos musicais. Enfim, como a música não se encontra desmembrada da estética pudemos perceber uma sensível piora estética em termos de videos clips e afins.
Mas qual a correlação de todas essas informações aparentemente jogadas por mim neste texto? A mídia, o Capitalismo Tardio, as nossas “cantoras” e a década de 1980? Basicamente, posso destacar que já são cinco horas da manhã no momento em que estou me propondo a escrever este texto exercitando umas das coisas que mais me davam satisfação a uns cinco anos atrás... beber cerveja durante toda a madrugada ao som de boa música! Mais precisamente, estou apreciando o bom e velho som do Black Sabbath. E ouvindo essas músicas me lembrei de uma conversa que tive com meu querido cunhado a poucos dias, onde ele dizia que “hoje está tudo muito louco, as pessoas pagam uma fortuna para ir a shows em que as (os) cantoras (es) fazem playback”! Com certeza meus astutos leitores já sabem a quem meu cunhado se referia nesse descompromissado desabafo... Pois então, na citada conversa destaquei que infelizmente a década de 1980 sempre foi tão abominada e não sabemos quando isso vai parar, já que ainda é lugar comum “detonar” os anos 80 e enaltecer a atualidade! Somos “prisioneiros” de nosso tempo, como os homens da caverna de Platão, e estamos presos à lógica do Capitalismo Tardio que sempre buscará valorizar o novo, o inovador, o diferente e o inédito. Enfim, tudo que venda mais e mais tendo com base a força da propaganda.

Francis Andrade é colaborador do Grupo Afavordacontracultura

domingo, 25 de abril de 2010

Quanto vale seu tempo?



Cleython G. G. da Silva

Quanto vale seu tempo? Acredito que por algumas vezes alguns de nós tenha se interrogado sobre o valor deste abstrato bem. A resposta, no entanto se torna demasiadamente complexa, uma vez que na maioria das circunstâncias não somos nós, os prováveis donos do nosso tempo que estipulamos valores às horas de nosso dia. De quem é seu tempo? Será que somos nós realmente os donos dele ou abdicamos deste direito de posse e o transformamos em uma mercadoria descartável de baixo valor?
Houve uma época em que o homem “dono de seu tempo” decidia como o utilizaria, este era orientado pelos seus afazeres diários, não por uma carga horária a ser cumprida no decorrer de seu dia de serviço. O tempo era natural, pertencia a cada indivíduo e era utilizado de acordo com as suas necessidades. Mais adiante o tempo natural dá lugar ao tempo cronológico. A partir daí o tempo se torna mercadoria e juntamente com ele chegamos nós ao mesmo status. Tornamos-nos “mercadorias que vendem mercadorias”.
Junto com o “tempo mercadoria” o homem perde sua condição de agente e se torna objeto a ser negociado em “relojoarias humanas” especializadas em expropriar o único bem que este possui; o tempo. Ao contrário do que nos é passado nos tornamos vendedores de horas que, sequer tem direito de estipular o valor de sua força de trabalho e de quantas horas quer vender. Objetos, não nos tornamos nada mais que objetos que com o tempo se tornam obsoletos e descartáveis.
Mas, até quando seremos tratados como mercadorias? Até quando não seremos nós que estipularemos o valor de nosso único bem? Quando, a voz que está presa em nossa garganta gritará que somos homens, não objetos e queremos ser tratados como tal? A resposta está ao alcance de nossos olhos, no entanto nos fazemos cegos. Está engasgada em nossa garganta, no entanto nossa voz se faz muda.
Nossos gritos se resumem simplesmente a um eco distante, distorcido e de difícil compreensão. Quando, na verdade deveria se tornar um coral de vozes afinadas, que espalham suas letras e melodias àqueles que se recusam a ouvir os ecos de nossa voz rouca e tímida.

Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.

Homens engrenagens



Erique Gustavo Soares da Silva

Homens ou máquinas? Cabe um questionamento, se não raras vezes somos igualados a engrenagens de uma máquina industrial, sendo forçados a girar cada vez mais veloz em busca de algo valioso. Ganhar tempo, aumentar lucros.
É perceptível que não somos mais que peças que precisam trabalhar harmoniosamente, para que essa máquina funcione, produza. E muitos de nós passamos pela vida inertes, sem perceber a gravidade desta questão. Sendo nos empurrado goela abaixo doses diárias de ideologias da classe do “operador de máquinas”, induzindo muitos de nós a se aceitarem como engrenagens, sonhando um dia se tornar operador.
Para o operador de máquinas o tempo é algo de suma importância. Não obstante, a todo instante ele tenta te convencer a não se preocupar com horas; “preocupe-se em produzir, só assim você crescerá”. E o que significa para ele não se preocupar com o tempo? Significa tentar chegar no horário, mas não se preocupar se seu dia de labor já venceu. Esqueça o tempo e gire, gire cada vez mais forte. Esse é o discurso usado pelo operador de máquinas para lhe expropriar cada vez mais.
Quanto vale uma engrenagem? Se fosse questionado quanto ao valor de nosssa força de trabalho, de homens que lutam diariamente pelo seu sustento, talvez não soubesse responder. Mas ao nos igualarmos a engrenagens é valido ressaltar que o nosso valor e ínfimo. Não passamos de peças que servirão enquanto funcionarem de acordo com os desejos do operador. Se nossa velocidade diminuir ou se tentarmos mudar o curso de rotatividade da engrenagem, somos descartados e trocados.
Portanto, para rompermos com essa idéia e passarmos a sermos tratados como homens que têm direitos e não só deveres temos que tirar dos olhos as vendas que nos cegam para o quanto estamos sendo explorados, e tapar os ouvidos para as melodiosas e sedutoras ideologias do operador de máquinas para nunca nos assemelharmos nem nos deixar assemelhar a engrenagens de uma máquina fria, de aço e sem intelecto.

Erique Gustavo Soares da Silva é graduando em História e tem interesse pela pesquisa em História do Brasil Contemporâneo

Acelerar para vencer


Adriana Gonçalves

A educação em Minas avança!? Interrogação ou exclamação? Eis a questão! Quando nos deparamos com a realidade da sala de aula o que surge é a certeza de que a atual situação da educação é vergonhosa. No presente texto, pretendo chamar a atenção para um projeto educacional em particular é o chamado PAV (Projeto Acelerar para Vencer) que tem por objetivo a aceleração da aprendizagem e a melhoria de desempenho dos alunos com defasagem de idade e série que cursam os anos finais do Ensino Fundamental.
Segundo resolução da SEE nº. 1033, de janeiro de 2008 o PAV tem por finalidade “promover a aquisição de competências e habilidade básicas indispensáveis ao sucesso do aluno na vida e na escola”(www.educacao.mg.gov.br), mas como conseguir atingir essas habilidades sendo que os alunos chegam aos anos finais sem saber ler e escrever?Essas a meu ver são as habilidades básicas, essenciais para dar continuidade à vida escolar, e dois anos não são suficientes para alfabetizar vários alunos e ainda trabalhar os conteúdos de Geografia, História, Ciências, Inglês, Português e Matemática dos anos finais do Ensino Fundamental.
Não obstante, os esforços dos profissionais da educação, efetivamente o que acontece ao final do ano letivo é que esses alunos são literalmente empurrados para a fase seguinte, haja vista que, as canetas vermelhas foram deixadas de lado e todo mundo tem os 60% exigidos para prosseguir. No entanto, passam, mas levam na bagagem as velhas deficiências.
O projeto vai certamente conseguir reduzir o problema da distorção idade-série, mas e a qualidade da educação? Segundo a resolução anteriormente citada “os alunos da aceleração I e II ao superarem a distorção idade/ano de escolaridade, serão integrados às turmas regulares”(www.educacao.mg.gov.br), é aí que nos deparamos com outro problema. Esses alunos do projeto receberam uma educação diferenciada, e agora como exigir deles o mesmo que se cobra dos alunos do ensino regular? As dificuldades serão grandes e muitos deles ficaram retidos no Ensino Médio, outros diante das dificuldades nem chegarão a concluir essa etapa ou ainda o mais provável irão sair da escola sem ter desenvolvido, de forma satisfatória, as competências básicas (ler e escrever). E o problema que a princípio foi solucionado virá à tona novamente. Ah! E antes que o mais bem intencionado venha dizer que não permitir o acesso desses alunos ao Ensino Médio regular é uma forma de exclusão reforço à idéia de que o próprio projeto com uma proposta de ensino diferenciado, já os havia excluído, portanto só seria uma forma de terminar o que foi iniciado.
Por fim, podemos concluir que o PAV só serve para engrossar os números da educação no Brasil, possibilitando a crescente dos gráficos da educação e o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) que tem por finalidade medir a qualidade da educação apenas expõe dados quantitativos, porque no qualitativo ainda deixamos muito a desejar. Continuamos a formar indivíduos reprodutores e não questionadores da realidade social e o pior ainda falta o mínimo: ler, escrever e interpretar.

Adriana Gonçalves é graduanda em História e tem interesse pela pesquisa em História do Brasil Contemporâneo.

sábado, 10 de abril de 2010

Pedagogia do Cassetete


Erique Gustavo Soares da Silva

Uniformes, cassetetes, armas de fogo, escudo e gás de efeito moral, e por traz de todo esse aparato, homens, imbuídos de manterem a segurança de todos. E por traz desses homens um falso discurso, uma forte ideologia, de que são treinados para contribuírem para a manutenção da ordem, da disciplina e da segurança de nossa sociedade.
Discurso este que procura legitimar a polícia, como responsável por educar a sociedade, mas de que forma se dá esse processo educacional? Através da “pedagogia do cassetete”. Que traz como instrumentos de educação, o auxilio da bala de borracha, do gás de efeito moral, recentemente renomeado, por trazer uma sonoridade melhor que gás lacrimogêneo, instrumentos esses que servem para demonstrar para o cidadão através da dor que ele cometeu um equívoco. Como se faz com animais, que empacam, ou urinam ou defecam dentro de casa, onde são castigados através da dor, assim eles aprenderão que se fizerem novamente, sofrerão o mesmo castigo.
Não podemos em hipótese alguma descartar a importância da polícia militar, mas por outro lado, enxergar-mos-á como pedagoga da sociedade, seria inocência ou hipocrisia. Pois é notório o despreparo desses homens para desempenharem tal função. Pois educação não se faz através de uma imagem repressora, nem tão pouco através de medidas violentas, educação se faz através de investimentos, nos profissionais de ensino, “os professores”, devem-se investir na sua formação, para que possamos formar profissionais aptos a contribuírem para a melhoria de nosso sistema educacional. Deve-se também investir em recursos para nossas escolas, e para nossos alunos, para que formemos pessoas aptas a viver em sociedade.
Segundo Paulo Freire, a polícia tem a função de manter a ordem estabelecida, ou seja, contribuir para que a classe dominante continue oprimindo a grande maioria da população, a classe dominada. Em outras palavras a polícia cumpre o papel de um cão raivoso, treinado e armado, para proteger aqueles que nos oprime, e ironicamente os oprime.
Por traz dos uniformes, das armas e do discurso legitimador, que os faz acreditar nos seus papéis de pedagogos da sociedade, existem homens, muitas vezes mal treinados mal remunerados, corruptíveis, que mesmo acreditando que fazem o certo, contribuem para a manutenção desse quadro de opressão e desigualdade que á muito impera em nossa sociedade.

Erique Gustavo Soares da Silva é graduando em História e tem interesse pela pesquisa em História do Brasil Contemporâneo

“Amor: tô indo pra festa.”


Cleython G. G. da Silva.

Há algum tempo em uma destas reuniões de meu local de trabalho, assisti a um vídeo com uma palestra um tanto quanto intrigante. O palestrante era um sujeito aparentemente bem trajado e com uma alegria e um senso de humor fora do comum. Afinal, temos todos que estar extremamente felizes e sempre com um sorriso no rosto em nossos respectivos serviços. Tarefa esta nada fácil. Mas, o mais intrigante de tudo isto foi quando o tal palestrante teceu o seguinte comentário: “muita gente quando vai sair para o trabalho diz; to indo pra guerra; vou dar o sangue; vou pra luta; vou ganhar o pão; vou pra batalha. Não! Ao sair para o trabalho porque não dizer: vou pra festa. Afinal, o trabalho tem que ser algo prazeroso, que nos traz alegrias”. Mas, será que usar essas palavras para dizer que iniciaremos mais um dia de labor condiz com a nossa realidade de trabalhadores? Vamos ver.
“Tô indo pra guerra”. Não é fácil o dia de um trabalhador que ganha um salário calculado à nível de subsistência. A educação e a saúde pública que são as quais este tem acesso caminham a passos lentos, quando não de pernas e mãos quebradas. Os filhos deste trabalhador (que representa a maioria da população) passam todas as etapas de seu processo educacional em escolas públicas, com qualidade de ensino vergonhosas. Ao final desta etapa escolar, os que concluem não conseguem fazer parte do seleto grupo que consegue entrar para uma universidade. Pois, um curso em uma universidade particular custa caro, e as vagas das públicas estão em sua maioria ocupada por filhos da elite.
“Vou ganhar o pão”. A esta expressão, inicialmente corrigiria simplesmente a palavra “ganhar”, pois o sustento diário não é obtido senão pela venda da força de trabalho e do tempo do trabalhador em troca de uma remuneração que muitas vezes não condiz com nível de produção alcançado pelo mesmo. Nada é de graça. Portanto, a expressão mais adequada seria: “vou lutar pelo pão”. Afinal, a luta diária pelo sustento não é nada fácil.
“Tô indo pra festa”. Que festa? Esmirilar seu dia correndo atrás do mínimo para seu sustento não é motivo de festejo. Saber que existem inúmeros direitos que lhe são garantidos por lei, mas não são respeitados, também não é motivo de festa. Ah! Mas o brasileiro é um sujeito alegre que ri mesmo nas maiores dificuldades. Nosso riso, não ameniza nossas dores. É guerra; luta; batalha; o termo que melhor se emprega a nossos dias de trabalho.
Submissão, comodismo e uma forte dose de hipocrisia é o que pude notar no comentário de tal palestrante. Discurso de quem não vive o dia-a-dia da maioria dos trabalhadores brasileiros. Festa será quando tivermos condições mais dignas de saúde, educação, moradia, segurança. Pois até o momento “o que temos é o que nos resta e estamos querendo demais”(Legião Urbana – A Montanha Mágica).

Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.

BBB



Natália Souza Soares

Como é comum em todas as noites alimento uma de minhas compulsões; mudar de canal constantemente em busca de sei lá o que, varias vezes passo pela atração global BBB e sempre ouço frases que no mínimo me intrigam, resolvi comentar algumas mais fortes.
“Vocês são heróis”, nesta vou defender o Pedro Bial, o que algumas vezes me levou a uma interpretação equivocada foi um erro constante entre os historiadores; não contextualizar o termo com o tempo que esta sendo empregado. Quando eu era criança (momento nostalgia) há uns 16 ou 17 anos herói era geralmente um homem ou mulher mascarado, pois não queriam auto promoção, não se interessavam pela fama; que arriscavam tudo pelo bem do mundo ou por um único cidadão em perigo, pregavam insistentemente valores como amizade, bondade, honestidade, respeito; para ser um herói nesta época era necessário ter um super poder, que ele evocava com palavras ou artefatos mágicos, era importante ser corajoso e alguns tinham um assistente altamente fiel. A questão é esta Bial não foi arrogante foi o significado do termo que mudou; para ser herói hoje sua mascara tem necessariamente que ser invisível, pois se promover é fundamental e é por isso que se arrisca tudo, os principais “valores” são beleza, simpatia, sensualidade, e inteligência para jogar, quanto ao super poder está nas mãos da globo que edita as edições e escolhe os merecedores destes, assistente só ser for formar um casal para se fortalecer no jogo e o melhor; correr o risco de ganhar um milhão ou mais. Não é fácil ser herói hoje.
“O BBB mostra a realidade do brasileiro”, bom isto depende do você considera realidade, se fisicamente você considera os brasileiros como pessoas lindas, malhadas, saudáveis e de grande maioria branca, e ainda valoriza a iniciativa das cotas para negros e homossexuais, sim estamos falando da realidade; se considera as pessoas com maior escolaridade como desequilibrados, o puxadinho ou casa pobre como a nossa casa pobre, se você tem festas com direito a shows internacionais semanalmente, se concorre varias vezes a carros e brindes das Casas Bahia com só 12 pessoas, o BBB é o retrato da realidade nua e crua, bem nua.
“Participar deste programa e uma experiência única”, realmente não é todo dia que se passam três meses em uma casa linda, confortável e com muitas possibilidades de ganhar alguma ou varias coisas. É corrente os participantes a exaltação da maravilhosa experiência de convivência, mais conheço algumas pessoas que passam por experiência de convivência bastante significativas no dia a dia, professores em varias salas cada uma com 40 alunos, soldados que passam 6 meses no Haiti, médicos que vão para Amazônia levar o mínimo a moradores de regiões afastadas e muitos outros que nem por isso estão no Faustão mostrando a grandeza desta tarefa.
Mais a maior lição que me deixa este programa e o lindo senso de justiça que os brasileiros ficam embebidos, se une em comunidades do orkut, chats, no bar, no salão de beleza, gruda no telefone pra defender o injustiçado, o excluído, o mais pobre e lutam, lutam muito para que o bem sempre vença. Pena que esta movimentação toda é só pra defender personagens que nem existe, pena que quando olham para a televisão querem defender o injustiçado, mais não enxergam o papel que ocupam, usam toda sua ignorância e hipocrisia para defender exatamente quem e determinado pela globo a ser defendido sem se dar conta de nada disso. Salve salve.......

Natália Souza Soares é graduanda em História (ISEED - Virginópolis/MG) e tem interesse pela pesquisa em História Regional