quarta-feira, 12 de maio de 2010

PROFISSIONAIS E PROFISSÕES


Cleython G. G. da Silva


O que você faz da vida? Essa pergunta é usada constantemente para definir o que somos. O “fazer o que da vida” nada mais é do que em que atuamos como profissionais. A profissão, em proporção igual ou até maior que nosso comportamento define quem somos e qual nossa importância dentro da sociedade. Ao falar em importância dentro da sociedade, há um discurso de que todas as profissões desde a considerada mais humilde até às que exigem um grau de estudos mais avançado e que utilizam pouco ou “nenhum” trabalho braçal exercem o mesmo grau de importância social. Isto é bem claro, afinal para que uma minoria goze dos luxos alguém tem que por a mão na massa. Esse discurso conformista faz com que tudo continue funcionando “harmoniosamente”. Mas, um ponto me intriga bastante nesta questão; se todas as profissões, independente de quais sejam exercem a mesma importância em uma sociedade, porque então umas serem tão mal remuneradas e pouco valorizadas e outras valorizadas e remuneradas em demasia? Será que a igualdade tão pregada só serve para enfeitar discursos?
Todos os dias várias pessoas se aprontam para dar início a mais um dia de trabalho. Pedreiros, garis, carpinteiros, professores, advogados, médicos, dentistas, etc. Após citar todos estes profissionais que desempenham suas respectivas funções para que a harmoniosa engrenagem social não pare de girar, cabe um questionamento: se todos estes tem a mesma importância para a sociedade, porque então são tratados com tanta diferença? Enquanto alguns profissionais se tornam mais visíveis e com brilho excessivo quando entram em seus uniformes brancos e engravatados, outros, no entanto se apagam e tornam-se invisíveis. O homem invisível não necessita de nenhum artefato mágico para tal proeza. Necessita apenas que seus “pares” bem trajados continuem a difundir seus discursos pseudo-igualitários.
Não haverá igualdade de importância entre profissões enquanto uma minoria expropriar a grande massa de trabalhadores. O igualitarismo difundido serve somente a esta minoria, a classe que injeta em nossas veias doses diárias de calmantes ideológicos. Passivos, dóceis e conformados, profissionais com pouca ou nenhuma valorização riem da própria desgraça sem saber que sua condição nada mais é do que o resultado desenfreado da exploração do homem pelo homem, ou se preferir de uma classe sobre a outra.
Conformismo, eis a função do discurso que difunde a importância igualitária entre todas as profissões. Serve apenas para tentar mascarar os antagonismos existentes e fazer com que profissionais mal remunerados e desvalorizados se sintam felizes como peças fundamentais para o equilíbrio social sem tomar consciência da sua real condição. Desta forma nada se altera, e estes se tornam cada vez mais escravos da “igualdade”, com seu custo “reduzido quase que exclusivamente ao indispensável para sobreviver e perpetuar a sua descendência” (Marx e Engels-Manifesto do Partido Comunista).

Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.

FUBASADA


Erique Gustavo Soares da Silva


Quem nunca ouviu, ou reproduziu o termo fubasada, usado para classificar pessoas de baixa renda, inúmeras vezes repetido por uma personagem de uma novelinha Global, designada ao público jovem, “Iasmin Fontes”, uma estudante da escola “surreal” Múltipla Escolha.
Não raras vezes, foi possível observar, a personagem se referir a população pobre nestes termos, com atitudes preconceituosas, a Iasmin era uma mistura de egocentrismo, soberba, aliado a um humor apelativo, que conquistou o seu público alvo com jargões e atitudes desrespeitosas as classes pobres do Brasil.
Levando em consideração tudo que acabei de ressaltar, o que poderia explicar o tamanho sucesso dessa personagem? Uma das possíveis razões estaria na influência que a mídia e predominantemente a emissora de TV Globo, exerce sobre nós. Levando em consideração que a televisão está presente em quase todos os lares brasileiros, sendo um entretenimento de baixo custo, não é difícil supor que fazemos parte de uma geração criada á frente desse tubo mágico, capaz de nos divertir, distrair e até mesmo nos passar juízo de valor e ideologias.
Crescemos assistindo as novelas Globais, que mostram uma visão de mundo que não condiz com a realidade, como uma esponja vamos absorvendo toda “lição de vida” que as tele-novelas têm-nos á oferecer, sem nos questionar-mos acerca dos suaves, e às vezes gritantes contrapontos existentes entre a realidade das novelas e a nossa. Nos tornamos cada vez mais dependentes desse entretenimento, e vamos nos alienando cada vez mais que adentramos, dóceis e passivos no tubo mágico, que tem o poder de criar seres maleáveis e reprodutores.
É a vida imitando a arte! Pois não é difícil esquecer todos os problemas sociais, toda desigualdade, quando questões pequenas, são postas como de suma importância pela mídia. Como quem irá ganhar o BBB? Se a mocinha da novela vai ou não trair o marido? Pois para que preocupar-mos com a desigualdade, com a falta de ética e compromisso de muitos de representantes políticos, se a todo momento, somos levados a acreditar que são problemas sem soluções, que todo político é corrupto, que a política é algo vil? Se é mais fácil nos conformar-mos, nos alienar-mos cada vez mais em nossa ignorância, acreditando, que assim como nas novelas no final sempre dará certo. A grande problemática, é que quanto mais alienados, mais conformados ficamos, mais no tornamos marionetes fáceis de manipular.
Talvez essa seja uma das possíveis razões do sucesso da personagem Iasmin, aliada a facilidade de assimilação, e a falta de criticidade da grande maioria da população diante do que nos é vomitado pela mídia, justifique que pessoas que fazem parte da fubasada, aderirem a esse jargão e reproduzi-lo. Talvez alienados não se veêm atolados no fubá até o pescoço, ou até se vêem, mais assimilam que realmente sua classe é inferior, e merecem o apelido e tratamento dado pela personagem, que tem aversão e fobia a pobre.

Erique Gustavo Soares da Silva é graduando em História e tem interesse pela pesquisa em História do Brasil Contemporâneo

terça-feira, 11 de maio de 2010

Política: teoria e prática


Francis Andrade

Em tempos de eleições é muito comum ouvir considerações sobre a política que se colocam em verdadeiros extremos. Antagonizando teoria e prática cidadãos comuns, teóricos e políticos iniciam verdadeiras batalhas dentro de um locus que se define, pelo menos a grosso modo, na soma total dos votos assinalados pelos inúmeros indivíduos que vão às urnas expressarem suas convicções, tenham elas as motivações que tiverem ou sejam elas quais forem.
Mas em um primeiro momento podemos afirmar que o que mais chama a atenção nessas épocas são os comentários soltos como: “fulano é politiqueiro demais...”, “olha lá, fulano já tá fazendo política...”, “na política se o cara não votar no meu candidato eu nem deixo ele entrar em minha casa...”. Evidentemente que esses comentários, que nem são tão soltos assim, trazem muito mais em comum do que a simples referência à palavra política. Na verdade os mesmos estão azeitados numa forma demasiada prática de pensar o fazer política, ou seja, na disputa castradora do tão importante debate político em si. Não são consideradas propostas, planos de governo, legendas e formação de coalizões, mas sim em quem deve-se ou não fiar o voto. Candidato A que é apoiado pelo influente homem de determinada família, ou o candidato B que é apoiado pelo vereador que representa tal segmento. Definidos os apoios políticos dessas referências populares, inicia-se então um processo de arregimentação de votos com base principalmente na fidelidade política a esses homens. Mas devemos ser cautelosos e problematizar como o apoio desses importantes homens é conseguido.
No dia 28 de janeiro último, foi veiculada matéria no jornal O Estado de São Paulo denunciando indícios de compra de apoio político por parte do Ex-Governador de Goiás em 2006, Marconi Perillo (PSDB). A compra de apoio político de Perillo se referia à sua candidatura para o Senado pelo próprio Estado em que foi Governador. Segundo os trechos das gravações veiculadas no periódico em questão as dívidas contraídas pelo então candidato ao Senado de Goiás passavam de R$ 750.000,00. Daí a pergunta: como será que estão sendo alinhavados os apoios políticos no Estado de Minas Gerais? Evidentemente não possuímos a resposta a tal malfadada pergunta, mesmo porque não participamos como protagonistas dos bastidores políticos, mas simplesmente como coadjuvantes. Nesse sentido nossa função primaz em relação a essa questão seria questionar nossos candidatos sobre seus apoios políticos, sempre na medida do possível pois nem sempre tais candidatos são tão acessíveis a tal ponto.
Contudo, tenho certeza que o leitor mais aguçado desse texto certamente está se questionando: “mas onde está a maldita indicação do título, ‘Política: teoria e prática’? Já que esse cara só está abordando a equivocada prática diária de eleitores e candidatos!” Pois bem, a Teoria Política realmente fica à margem de tais discussões. Num mundo tão dinâmico e pragmático quanto o do fazer política, teóricos (ou até mesmo pessoas com um ponto de vista um pouco mais crítico como é o meu próprio caso) são obrigados como Sócrates na Grécia Antiga a se suicidar ingerindo cicuta. No nosso caso contemporâneo, nos suicidamos politicamente em termos sociais em nossas pequeníssimas “rodas de discussão” capazes de resolver todos os problemas de Minas Gerais, do Brasil, e até mesmo do mundo. Ainda, no nosso caso, o cicuta são nossas próprias discussões e leituras que a cada vez mais nos afastam do mundo cotidiano e prático que não quer partilhar de nossas idiotas preocupações. Importante frisar que não utilizo o termo “idiotas” em sua acepção pejorativa, mas sim original: indivíduos incapazes de coordenar idéias. Porém, tendo como base a produção cinematográfica dinamarquesa do Dogma 95, “Os Idiotas” (1998), fica a questão: quem são os reais idiotas?

Francis Andrade é colaborador do Grupo Afavordacontracorrente