sexta-feira, 30 de abril de 2010

MÚSICA BOA É MÚSICA NOVA


Francis Andrade

Nos dias de hoje ao ligarmos nossos rádios e tv’s podemos frequentemente ouvir e ver as mais finas flores do cenário musical mundial da atualidade. Friso no plural “mais finas flores” não por ignorância, mas por seguir os alertas de Frederic Jameson que nos atenta para o fato de que vivemos na era do Capitalismo Tardio, e por isso acabamos sendo influenciados por um verdadeiro turbilhão de informações e “cânones” que borbulham a todo dia, a toda hora e a todo momento. Nesse cenário difuso, ou centrípeto já que não consigo mais me nortear tão bem quanto dantes, podemos citar as “sempre” belas e entusiásticas performances de nossas mais emblemáticas exemplares “cantoras” como Lady Gaga, Beyonce e Kate Perry, dentre outras e “outros”. A verdade é que vivemos num cenário extremamente adverso em relação à tão criticada década de 1980.
Interessante é o dado de que durante toda a minha infância, e também durante minha puberdade e até mesmo minha idade adulta, sempre ouvi dizer que os anos 80 foram perdidos e bregas, e que além disso esse tempo foi um verdadeiro retrocesso não apenas em termos econômicos como também culturais. Pois bem, hoje olho para trás e vejo tudo de uma forma muito diferente bem como muito pouco abominável, pelo menos em acordo com as reminiscências provenientes de meus ouvidos. Na verdade percebo atualmente que a década de 1980 não foi nada mais nada menos que um momento de acomodação de ideais, aspirações e utopias. Infelizmente esses dez anos significaram para a nossa geração o triunfo do neoliberalismo e a derrota, mesmo que temporária, dos ideais sociais. Em melhores palavras esse foi um tempo em que a economia acabou por influenciar tanto as artes que acabamos por vivenciar um pleno declínio estético de suas manifestações, mais precisamente em termos musicais. Enfim, como a música não se encontra desmembrada da estética pudemos perceber uma sensível piora estética em termos de videos clips e afins.
Mas qual a correlação de todas essas informações aparentemente jogadas por mim neste texto? A mídia, o Capitalismo Tardio, as nossas “cantoras” e a década de 1980? Basicamente, posso destacar que já são cinco horas da manhã no momento em que estou me propondo a escrever este texto exercitando umas das coisas que mais me davam satisfação a uns cinco anos atrás... beber cerveja durante toda a madrugada ao som de boa música! Mais precisamente, estou apreciando o bom e velho som do Black Sabbath. E ouvindo essas músicas me lembrei de uma conversa que tive com meu querido cunhado a poucos dias, onde ele dizia que “hoje está tudo muito louco, as pessoas pagam uma fortuna para ir a shows em que as (os) cantoras (es) fazem playback”! Com certeza meus astutos leitores já sabem a quem meu cunhado se referia nesse descompromissado desabafo... Pois então, na citada conversa destaquei que infelizmente a década de 1980 sempre foi tão abominada e não sabemos quando isso vai parar, já que ainda é lugar comum “detonar” os anos 80 e enaltecer a atualidade! Somos “prisioneiros” de nosso tempo, como os homens da caverna de Platão, e estamos presos à lógica do Capitalismo Tardio que sempre buscará valorizar o novo, o inovador, o diferente e o inédito. Enfim, tudo que venda mais e mais tendo com base a força da propaganda.

Francis Andrade é colaborador do Grupo Afavordacontracultura

Um comentário:

  1. no entanto caro pensador,se a musica é o reflexo das aspirações de uma geração,penso eu que apesar de vivermos na era das informações supersonicas, vivemos taambém numa geração ainda mais alienada,e sinto falta dos anos 80 que não vivi!

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