terça-feira, 11 de maio de 2010

Política: teoria e prática


Francis Andrade

Em tempos de eleições é muito comum ouvir considerações sobre a política que se colocam em verdadeiros extremos. Antagonizando teoria e prática cidadãos comuns, teóricos e políticos iniciam verdadeiras batalhas dentro de um locus que se define, pelo menos a grosso modo, na soma total dos votos assinalados pelos inúmeros indivíduos que vão às urnas expressarem suas convicções, tenham elas as motivações que tiverem ou sejam elas quais forem.
Mas em um primeiro momento podemos afirmar que o que mais chama a atenção nessas épocas são os comentários soltos como: “fulano é politiqueiro demais...”, “olha lá, fulano já tá fazendo política...”, “na política se o cara não votar no meu candidato eu nem deixo ele entrar em minha casa...”. Evidentemente que esses comentários, que nem são tão soltos assim, trazem muito mais em comum do que a simples referência à palavra política. Na verdade os mesmos estão azeitados numa forma demasiada prática de pensar o fazer política, ou seja, na disputa castradora do tão importante debate político em si. Não são consideradas propostas, planos de governo, legendas e formação de coalizões, mas sim em quem deve-se ou não fiar o voto. Candidato A que é apoiado pelo influente homem de determinada família, ou o candidato B que é apoiado pelo vereador que representa tal segmento. Definidos os apoios políticos dessas referências populares, inicia-se então um processo de arregimentação de votos com base principalmente na fidelidade política a esses homens. Mas devemos ser cautelosos e problematizar como o apoio desses importantes homens é conseguido.
No dia 28 de janeiro último, foi veiculada matéria no jornal O Estado de São Paulo denunciando indícios de compra de apoio político por parte do Ex-Governador de Goiás em 2006, Marconi Perillo (PSDB). A compra de apoio político de Perillo se referia à sua candidatura para o Senado pelo próprio Estado em que foi Governador. Segundo os trechos das gravações veiculadas no periódico em questão as dívidas contraídas pelo então candidato ao Senado de Goiás passavam de R$ 750.000,00. Daí a pergunta: como será que estão sendo alinhavados os apoios políticos no Estado de Minas Gerais? Evidentemente não possuímos a resposta a tal malfadada pergunta, mesmo porque não participamos como protagonistas dos bastidores políticos, mas simplesmente como coadjuvantes. Nesse sentido nossa função primaz em relação a essa questão seria questionar nossos candidatos sobre seus apoios políticos, sempre na medida do possível pois nem sempre tais candidatos são tão acessíveis a tal ponto.
Contudo, tenho certeza que o leitor mais aguçado desse texto certamente está se questionando: “mas onde está a maldita indicação do título, ‘Política: teoria e prática’? Já que esse cara só está abordando a equivocada prática diária de eleitores e candidatos!” Pois bem, a Teoria Política realmente fica à margem de tais discussões. Num mundo tão dinâmico e pragmático quanto o do fazer política, teóricos (ou até mesmo pessoas com um ponto de vista um pouco mais crítico como é o meu próprio caso) são obrigados como Sócrates na Grécia Antiga a se suicidar ingerindo cicuta. No nosso caso contemporâneo, nos suicidamos politicamente em termos sociais em nossas pequeníssimas “rodas de discussão” capazes de resolver todos os problemas de Minas Gerais, do Brasil, e até mesmo do mundo. Ainda, no nosso caso, o cicuta são nossas próprias discussões e leituras que a cada vez mais nos afastam do mundo cotidiano e prático que não quer partilhar de nossas idiotas preocupações. Importante frisar que não utilizo o termo “idiotas” em sua acepção pejorativa, mas sim original: indivíduos incapazes de coordenar idéias. Porém, tendo como base a produção cinematográfica dinamarquesa do Dogma 95, “Os Idiotas” (1998), fica a questão: quem são os reais idiotas?

Francis Andrade é colaborador do Grupo Afavordacontracorrente

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