sábado, 10 de abril de 2010

“Amor: tô indo pra festa.”


Cleython G. G. da Silva.

Há algum tempo em uma destas reuniões de meu local de trabalho, assisti a um vídeo com uma palestra um tanto quanto intrigante. O palestrante era um sujeito aparentemente bem trajado e com uma alegria e um senso de humor fora do comum. Afinal, temos todos que estar extremamente felizes e sempre com um sorriso no rosto em nossos respectivos serviços. Tarefa esta nada fácil. Mas, o mais intrigante de tudo isto foi quando o tal palestrante teceu o seguinte comentário: “muita gente quando vai sair para o trabalho diz; to indo pra guerra; vou dar o sangue; vou pra luta; vou ganhar o pão; vou pra batalha. Não! Ao sair para o trabalho porque não dizer: vou pra festa. Afinal, o trabalho tem que ser algo prazeroso, que nos traz alegrias”. Mas, será que usar essas palavras para dizer que iniciaremos mais um dia de labor condiz com a nossa realidade de trabalhadores? Vamos ver.
“Tô indo pra guerra”. Não é fácil o dia de um trabalhador que ganha um salário calculado à nível de subsistência. A educação e a saúde pública que são as quais este tem acesso caminham a passos lentos, quando não de pernas e mãos quebradas. Os filhos deste trabalhador (que representa a maioria da população) passam todas as etapas de seu processo educacional em escolas públicas, com qualidade de ensino vergonhosas. Ao final desta etapa escolar, os que concluem não conseguem fazer parte do seleto grupo que consegue entrar para uma universidade. Pois, um curso em uma universidade particular custa caro, e as vagas das públicas estão em sua maioria ocupada por filhos da elite.
“Vou ganhar o pão”. A esta expressão, inicialmente corrigiria simplesmente a palavra “ganhar”, pois o sustento diário não é obtido senão pela venda da força de trabalho e do tempo do trabalhador em troca de uma remuneração que muitas vezes não condiz com nível de produção alcançado pelo mesmo. Nada é de graça. Portanto, a expressão mais adequada seria: “vou lutar pelo pão”. Afinal, a luta diária pelo sustento não é nada fácil.
“Tô indo pra festa”. Que festa? Esmirilar seu dia correndo atrás do mínimo para seu sustento não é motivo de festejo. Saber que existem inúmeros direitos que lhe são garantidos por lei, mas não são respeitados, também não é motivo de festa. Ah! Mas o brasileiro é um sujeito alegre que ri mesmo nas maiores dificuldades. Nosso riso, não ameniza nossas dores. É guerra; luta; batalha; o termo que melhor se emprega a nossos dias de trabalho.
Submissão, comodismo e uma forte dose de hipocrisia é o que pude notar no comentário de tal palestrante. Discurso de quem não vive o dia-a-dia da maioria dos trabalhadores brasileiros. Festa será quando tivermos condições mais dignas de saúde, educação, moradia, segurança. Pois até o momento “o que temos é o que nos resta e estamos querendo demais”(Legião Urbana – A Montanha Mágica).

Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.

Um comentário:

  1. EU lembro desse filhoda..."patria" quase todo dia quando acordo...O nome é Daniel Godri.

    Depois de muito tempo com esta piada entalada na garganta eu cheguei a conclusão de que ele não estava errado não. Quem estava errado, ou esta, sou eu, ou nós. POr que o tudo que ele falou foi calculadamente pensado pra ser dito a uma parcela da população, grande maioria, que queria e precisa ouvir aquilo. Que se sente bem ouvindo certos chavões, e gosta de ser
    adestrada. É esse povo ingênuo que grita a todos os pulmões "sou brasileiro, não desisto nunca..." Alias, desconfio que essa frase saiu do mesmo cara ou da mesma agência de publicidade. Isso, vai la brasileiro, não desita nunca por que a situação vai melhorar pra vc que rala, pra vc que persiste nessa luta pela sobrevivencia achando que um dia alguma coisa vai cair do ceu e tudo vai ficar bem. Rala, desiste não, assim vc continua custando barato pra nós, que fizemos essa frase pra vc. Por que que rico nunca fala essa bobagem? Por que ta tudo bem né, obvio...E o povo enche o pulmão para falar essaa merda e fica se sentindo melhor depois que fala. Pega o onibus mais feliz, se humilha e agradece o patrão, e ganha aquela injeção de animo com este verdadeiro mantra de imbecil.É isso, desiste não mané, vamo pra festa. Poe um sorriso nessa cara, força, a fila no hospital vai durar so 8 horas com essa dorzinha que ce ta ai. MAs po, pra vc, que é brasileiro e não desiste nunca, o que é um dor qualquer!!! Vamos! Ce não vai ganhar nada, mas não desista nunca, um dia vc vai ganhar...quando seu patrão ja tiver ganhado muito mais...Incluindo boa parte da sua vida.

    Tradução: " Levanta, vai ralar o que ce rala por essa miseria mesmo, por que ce não tem outra opção e tem varios querendo seu lugar. Se só da pra sobreviver o problema é seu, eu não tenho nada com isso, fui pago pra vir aqui dizer umas palavrinhas engraçadas e fazer vcs, bobos, entorpecidos com um clima qualquer de palestra ou reunião, rirem e aprovarem o que eu falei, deixando assim seus patrões felizes e recebendo meu cheque, bem melhor que seu salario. NO mais, vc so vai entender mesmo que é uma besta muito tempo depois que essa merda de palestra acabar, quem sabe so o mes que vem. Ou quando ce tiver se humilhando ou se fudendo no seu trampo, de graça. Dai ce lembra de mim e me diz o que é festa otario."

    Eu mesmo queria que essa frase fosse dita numa guerrilha, ou numa manifestação greve ou passeata, no Brasil inteiro principalmente no interior... por melhores...melhores TUDO!!!! Ou da boca de um advgado trabalhista convencendo alguem do interior a lutar de verdade por seus direitos..." VAI LA CARA, EXIGE, TU É BRASILEIRO, NÃO DESISTA DE LUTAR COM HONESTIDADE, JUSTIÇA E RESULTADOS PELOS SEUS DIREITOS!"

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