quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Direito de resposta.


Erique Gustavo Soares da Silva.

Certa vez estava eu numa loja de informática, quando anunciou na TV que acabava de adentrar no Complexo do Alemão, não sei quantos blindados, e o rapaz que me atendia teceu o seguinte comentário: “eles queriam guerra, agora vão ter guerra!”. Fitei-o nos olhos, e pude observar a empolgação que este sentia, pensei em debater com ele acerca de minha opinião sobre o que ocorria no Rio de Janeiro, mas achei melhor me calar para não render assunto.
Praticamente todos os canais de televisão cobriam o acontecimento, e todos aqueles repórteres de coletes salva-vidas, dando-nos a impressão de que arriscavam a suas vidas para nos deixar por dentro do que estava ocorrendo, a todo o momento tentando nos comprovar a magnitude daquela invasão policial, que traria a paz num cenário que outrora era de violência.
Quando teci o seguinte comentário, “como se fosse resolver!”. E tive como resposta da pessoa a meu lado, “esses bandidos merecem é isto mesmo”! Diante dessa resposta tive que expor a visão que tinha acerca de todo aquele circo montado no Rio de Janeiro.
Primeiramente expus para esta, que em momento algum eu seria contra a prisão dos traficantes, e a invasão policial, só que são medidas superficiais, imediatistas, não se resolve o complexo problema da violência apenas expulsando alguns traficantes da favela, como a mídia quer nos fazer crer. O buraco é mais embaixo, invadir, matar, prender e instalar uma “policia pacificadora” no local, ameniza o problema, mais não é eficaz, logo surgirão outras lideranças criminosas, isto se os mesmo não voltarem assim quando a poeira baixar.
Porque criminosos, ao contrário do que muitos pensam, ou não pensam, não surgem do nada, não nascem criminosos, são crias do próprio sistema, da realidade dura, maçante e desumana em que grande parte está submetida, sem acesso a educação, saúde e muitas vezes até alimentação, vêem como saída adentrar no mundo do crime, talvez o caminho mais curto para alcançar dinheiro e “respeito” na comunidade.
Outro fator é o problema do tráfico, pois este não é um negócio que beneficia apenas um grupo, são milhões ou bilhões não sei o certo, que o tráfico movimenta, e não são apenas os ditos traficantes que lucram, mas também muitos bandidos de farda ou colarinho branco, que sempre recebem alguns para fazerem vistas grossas, e até mesmo viabilizarem a circulação e o comércio do produto.
E por fim, a invasão no Complexo do Alemão, só nos mostra como tudo gira em torno de interesses individuais, ou de classe, pois se o Brasil mostrou que tem força bélica e soldados treinados para expulsar e prender os chefes do tráfico, por que só o fizeram agora? Talvez para mostrar para o Mundo que o país tem capacidade para sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, e que o problema da violência no Brasil já está sendo solucionado.
Talvez eu esteja equivocado, mas a impressão que me dá, é que o bem estar da população é algo secundário, se nós, suburbanos e favelados e todos aqueles que não têm condições de andar com seguranças particulares e carros blindados se beneficiaram, não é ruim, mas o essencial é que causamos uma boa impressão lá fora.

Erique Gustavo Soares da Silva é graduando em História e tem interesse pela pesquisa em História do Brasil Contemporâneo

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