
Cleython G. G. da Silva
O que você faz da vida? Essa pergunta é usada constantemente para definir o que somos. O “fazer o que da vida” nada mais é do que em que atuamos como profissionais. A profissão, em proporção igual ou até maior que nosso comportamento define quem somos e qual nossa importância dentro da sociedade. Ao falar em importância dentro da sociedade, há um discurso de que todas as profissões desde a considerada mais humilde até às que exigem um grau de estudos mais avançado e que utilizam pouco ou “nenhum” trabalho braçal exercem o mesmo grau de importância social. Isto é bem claro, afinal para que uma minoria goze dos luxos alguém tem que por a mão na massa. Esse discurso conformista faz com que tudo continue funcionando “harmoniosamente”. Mas, um ponto me intriga bastante nesta questão; se todas as profissões, independente de quais sejam exercem a mesma importância em uma sociedade, porque então umas serem tão mal remuneradas e pouco valorizadas e outras valorizadas e remuneradas em demasia? Será que a igualdade tão pregada só serve para enfeitar discursos?
Todos os dias várias pessoas se aprontam para dar início a mais um dia de trabalho. Pedreiros, garis, carpinteiros, professores, advogados, médicos, dentistas, etc. Após citar todos estes profissionais que desempenham suas respectivas funções para que a harmoniosa engrenagem social não pare de girar, cabe um questionamento: se todos estes tem a mesma importância para a sociedade, porque então são tratados com tanta diferença? Enquanto alguns profissionais se tornam mais visíveis e com brilho excessivo quando entram em seus uniformes brancos e engravatados, outros, no entanto se apagam e tornam-se invisíveis. O homem invisível não necessita de nenhum artefato mágico para tal proeza. Necessita apenas que seus “pares” bem trajados continuem a difundir seus discursos pseudo-igualitários.
Não haverá igualdade de importância entre profissões enquanto uma minoria expropriar a grande massa de trabalhadores. O igualitarismo difundido serve somente a esta minoria, a classe que injeta em nossas veias doses diárias de calmantes ideológicos. Passivos, dóceis e conformados, profissionais com pouca ou nenhuma valorização riem da própria desgraça sem saber que sua condição nada mais é do que o resultado desenfreado da exploração do homem pelo homem, ou se preferir de uma classe sobre a outra.
Conformismo, eis a função do discurso que difunde a importância igualitária entre todas as profissões. Serve apenas para tentar mascarar os antagonismos existentes e fazer com que profissionais mal remunerados e desvalorizados se sintam felizes como peças fundamentais para o equilíbrio social sem tomar consciência da sua real condição. Desta forma nada se altera, e estes se tornam cada vez mais escravos da “igualdade”, com seu custo “reduzido quase que exclusivamente ao indispensável para sobreviver e perpetuar a sua descendência” (Marx e Engels-Manifesto do Partido Comunista).
Cleython Silva é graduando em História e tem interesse de pesquisa pelo Brasil Contemporâneo.